A Casa do Alto

A Casa do Alto traz-nos uma grande história de amor ou, talvez, a história de um grande amor através dos sentimentos que Marie-Thérèse vai folheando ao longo dos anos no grande livro que é Lisboa e o seu Tejo, sob o olhar maternal da Casa do Alto, no aconchego da sua mansarda, no movimento da sua academia de música, na aventura discreta e, no entanto, algo alucinada, que é a sua existência. Os encontros e os desencontros que a vida lhe marca, com as perplexidades de um tempo medido pelo belo relógio Junghans, tornado interveniente numa história em que apenas lhe incumbia ser testemunha, levam Marie-Thérèse à sirga da sua solidão e de relacionamentos por vezes agridoces, sob o cenário de uma Lisboa em transformação: dos cinzentos anos cinquenta aos alvoroçados anos 60, dos inebriantes anos 70 à lenta construção de uma modernidade e de uma democracia nas décadas seguintes.

A Casa do Alto talvez seja a história de uma viagem, a de Marie-Thérèse ao encontro de si própria:

Às vezes, pensava que todas as pessoas tinham uma música. Poderia nem ser a preferida, poderiam nem sequer conhecê-la com os ouvidos, mas estava absolutamente convencida de que todas nasciam com uma música e que a iam trabalhando ao longo da pauta que a vida oferece, até que um dia a reconheciam e a entoavam por dentro de si próprias, ou até ao dia em que alguém as tangesse a preceito e a sua música, até aí submersa, lhes jorrasse a verdade e, com ela, o destino.