Mestre Pintor Fernando Rosário

Fernando da Silva Rosário, pintor autodidata, filho de Joaquim do Rosário e de Eva Gonçalves Ferreira da Silva, é natural de Esposende, onde nasceu a 30 de janeiro de 1950.

Oriundo de uma família humilde e numerosa, é o quarto dos 14 filhos do casal.

O ambiente de frágeis recursos económicos em que viveu não lhe impediu a realização de um sonho que nasceu e começou a crescer na intimidade do seu quarto quando, muito criança ainda, descobriu a capacidade de desenhar até à perfeição, as imagens religiosas expostas nos quadros das paredes em casa da família.

Na escola onde aprendeu as primeiras letras, desde logo passou a ser alvo de uma especial admiração por parte dos professores e colegas, quando substituía por desenhos os exercícios escritos que lhe eram propostos. Motivo de preocupação por parte dos mestres que, conhecendo a falta de poder económico da família, previam a sua capacidade criativa com poucas hipóteses de êxito.

Ainda criança, e a pedido do pai, é aceite como aprendiz sem remuneração na Tipografia Cávado em Esposende onde, nos intervalos escolares, ganha contacto com o mundo do trabalho e experimenta os primeiros traços nos linóleos tipográficos.

Aos 13 anos, vai trabalhar para uma pensão em Viana do Castelo, onde ganhará o seu sustento e de onde diariamente partirá para a frequência da Escola Comercial. É o dono da pensão que, reparando no talento do rapaz para o desenho, aconselha seu pai a que o transfira para um outro rumo de vida.

Aos 15, matricula-se em Braga, no Curso Noturno de Desenho da Escola Carlos Amarante, trabalhando em simultâneo numa litografia como desenhador.

Entre 1972 e 1974,  cumpre o serviço militar obrigatório, parte dele na então colónia de Timor, para onde fora mobilizado.

É aqui que Fernando Rosário, prosseguindo o seu sonho, pinta os primeiros quadros de uma caminhada que há de guindá-lo ao lugar de reconhecimento público que marca o seu percurso artístico como pintor de grande craveira. Aí expõe pela primeira vez e ganha importantes prémios em concursos.

No regresso a Portugal, retoma a sua profissão em Braga, durante mais quatro anos.

Já então constituíra família. Casara e tinha uma filha. Interessava-lhe, por isso, voltar à sua terra natal. E em 1978, apesar dos esforços patronais para o manter na Cidade dos Arcebispos, rumou a Esposende, vindo a estabelecer-se na freguesia de Marinhas. Abriu uma Fotografia com o seu ateliê de pintura. Desdobrava-se em trabalhos, vontades, sonhos e conhecimentos.

 Aí convive com o famoso Henrique Medina, que um dia quis conhecer o artista Fernando Rosário. Fizeram grande amizade, ao ponto de se encontrarem várias vezes para falar de pintura. Esta convivência com o grande pintor vem proporcionar a Rosário uma útil aprendizagem, tendo chegado a fazer alguns trabalhos que Mestre Medina não podia aceitar.

Iniciam-se novos tempos na vida deste autodidata que não pára de surpreender. O sucesso redobra, pintura após pintura, exposição após exposição, mérito e distinção a que ninguém fica indiferente.

Não se contentando com o investimento do seu talento apenas em proveito próprio, preocupa-se por ensiná-lo aos outros. Assim, com início em 1989, muitos filhos de Esposende beberam os seus ensinamentos em Cursos de Formação e Iniciação ao Desenho e Pintura, com o apoio da Câmara Municipal e da Direção Geral de Apoio e Extensão Educativa.

Em 2003, é convidado para retratista privado da Fundação Eng. António de Almeida, pelo Doutor Fernando Aguiar Branco, Presidente da referida Fundação, sediada no Porto.

É aqui que começa a época áurea de Fernando Rosário, em trabalho e convívio com alguns dos mais conceituados Professores das Faculdades de Letras e de Direito da Universidade de Coimbra, da Universidade do Porto, assim como ilustres Figuras da Academia de História de Lisboa. Grandes nomes em cujos retratos deixou a marca da sua assinatura, hoje exposta em importantes galerias.

Uma colaboração de excelência artística e de relações humanas que durou cerca de duas décadas, vindo a terminar com o começo da pandemia e o falecimento do Doutor F. Aguiar Branco.

Mas não foi apenas neste âmbito que Rosário se impôs enquanto retratista altamente qualificado.

No seu trabalho contínuo e muito procurado pela exigência dos melhores, constam grandes vultos de toda a hierarquia do Clero, Administração Pública, profissões liberais, personalidades públicas e privadas, beneméritos agraciados. E também homens e mulheres do mar e do campo, figuras regionais do Minho e figuras carismáticas de uma sociedade onde deixaram vestígios que de algum modo lhe tocaram a sensibilidade.

Além do RETRATO, a expressão plástica do conceituado esposendense manifesta-se, de modo surpreendente, na sua pintura de ARTE SACRA.

Aqui, Fernando Rosário embrenha-se no transcendente, como quem viaja por um mistério na linguagem mística do Divino em que acredita, como serena referência para o humano.

As suas Nossas Senhoras e os seus Jesus Cristo são de uma rara grandeza que irradia Fé e se pressente como força inexplicável que nos ultrapassa. Assim, espalhando talento e beleza por igrejas e capelas, oratórios, retábulos, alminhas ou cruzeiros, talhas ou telas, Fernando Rosário assume a sua religião, com a naturalidade de quem reza uma prece.

Em 1980, dedica-se ao estudo e técnica do RESTAURO, recuperando centenas de telas de grande valor e cariz religioso, como as da Igreja do Senhor da Cruz em Barcelos, Matriz de Pedrógão Grande, Capela de S. Geraldo na Sé de Braga, assim como os retratos dos grandes beneméritos da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos e da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim.

Mas o Mestre Pintor não se fica por aqui, na diversidade da sua Obra. A PINTURA DE PAISAGEM  é uma leitura de si próprio, enquanto sensibilidade e emoção. O todo e o pormenor, registos romantizados de tempos vividos ao sabor de momentos que quis manter pernes. As cores, a luminosidade e a sombra, a energia de lugares que lhe foram vida em ambientes de um telurismo impressionante e poético, são segredos que o sentimento guarda em realidades que, muitas vezes, deixaram de o ser. Daí que, em diversos casos, estas pinturas funcionarão como cartaz documental da identidade comunitária de determinada época que, por força de circunstâncias da sorte ou do azar, mudou completamente o seu rosto. Em alguns casos, os únicos testemunhos credenciados.

As suas ILUMINURAS  em pergaminho e papel tratado são verdadeiras obras de arte, saídas de um grande rigor aliado à paciência, riqueza de pormenor e imaginação com que o artista  executa diplomas de homenagem e distinção, personalizando a beleza estética com que se demarcam da vulgaridade.

Com mestria e uma personalidade muito própria, trabalha as técnicas da aguarela, do carvão, do pergaminho iluminado e do óleo sobre madeira ou tela.

Em agosto de 2009, recebe de Sua Santidade Bento XVI uma Bênção Apostólica, como “Penhor de acção de graças pelo seu talento, amor à arte e favores celestes…”

A arte de Fernando Rosário, aplaudida por especialistas e leigos muito para além do Minho foi, ao longo dos anos, premiada por diversas instituições, com destaque para a Universidade de Coimbra, Universidade do Porto, Academia Portuguesa de História em Lisboa, Sé de Braga, Núncio Apostólico, Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, Bombeiros Voluntários de Vila das Aves, Câmara Municipal de Felgueiras.

A 15 de agosto de 2008, a Câmara Municipal de Esposende atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Cultural.

Com obra dispersa em museus e coleções públicas ou privadas, o seu nome corre Portugal de norte a sul e o estrangeiro, nomeadamente Brasil, Espanha, França, Alemanha, Suíça, Canadá, Estados Unidos da América, Venezuela.

É o valor consagrado de um carisma singular.

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